quinta-feira, 31 de março de 2016

Faça-se a luz

Como primeira contribuição para o Observatório, um texto recente, que publiquei, com um amigo, no Estadão: Análise - Zica, orçamento e ação policial: faça-se a luz! ANDRÉ R. SATHLER E VALDEMIR PIRES* - O ESTADO DE S. PAULO 23 Fevereiro 2016 | 22h 00 - Atualizado: 23 Fevereiro 2016 | 22h 00 Texto publicado originalmente no Estadão Noite O governo Alckmin decretou sigilo de 50 anos para dados dos boletins de ocorrência policial. Questionam-se os números referentes à microcefalia no Brasil nos últimos meses. O que essas duas questões têm em comum? Elas tocam na questão da transparência. A prática de coletar e armazenar informações sobre os povos por parte dos seus governos é antiga e tem inclusive registros bíblicos. Trata-se de um processo quase natural, pois parte do poder do Estado tem como pressuposto a sua capacidade de monitorar o sistema governamental de forma reflexiva e para fins administrativos. Um Estado que pensa em ir à guerra sem informações sobre seu próprio poderio bélico é candidato à derrota. Estrategicamente, como apontado pelo clichê de Sun Tzu, primeiro deve-se conhecer a si mesmo, depois conhecer bem o inimigo e, por fim, conhecer o território em que se dará a batalha. Talvez inspirados na Igreja, que tinha os seus arcana Dei, os mistérios da divindade, que eram proibidos e deviam ser mantidos em segredo, os administradores dos primeiros arquivos estatais cunharam a noção de arcana imperii, os segredos de Estado. A expressão teve uso mais corrente a partir do século XVII, revelando a preocupação dos funcionários públicos com a manutenção do monopólio sobre certos tipos de informação. Como argumenta o historiador Peter Burke, o monopólio da informação era um dos meios de alcançar e manter o monopólio do poder. Somente com a Revolução Francesa começou a se disseminar a noção da publicidade, tendo como base o princípio do acesso público às informações públicas, o que só não é uma tautologia porque até os nossos dias a prática ainda está atrasada em relação à teoria. A falta de transparência pode adotar muitas formas. O bloqueio puro e simples, como na decisão de Alckmin, ou o uso de linguagem hermética, como quando disponibiliza informações orçamentárias. Todos os governos no Brasil, no nível nacional e subnacional, vão dizer que cumprem as exigências de disponibilização de informações concernentes à execução orçamentária. Mas quantos brasileiros são capazes de articular conhecimento fático e adequado sobre a situação fiscal nacional, estadual ou municipal? Richelieu, o grande político realista do absolutismo francês, disse, em seu testamento, que o conhecimento não deve ser transmitido às pessoas do povo, para evitar que fiquem descontentes com sua posição na vida. Muitos Estados ainda operam segundo essa lógica, buscando máxima publicidade e transparência naquilo que lhes interessa - disseminação das leis, decretos, datas e valores para pagamentos dos impostos - e o máximo de obscuridade naquilo que não interessa. Problemas surgem diante de situações em que é difícil sopesar o equilíbrio entre essas duas posturas. Como no caso da zika. Informações demais podem confundir e gerar pânico desnecessário. Informações de menos podem significar a perda de muitas vidas. Na nossa visão, trata-se de um caso clássico de na dúvida, ultrapasse! Estando em jogo a saúde das pessoas, deve-se adotar o máximo de transparência. Quanto mais informações melhor. Ainda que possam surgir efeitos deletérios - como o surgimento de oportunistas que vão comprar todos os repelentes na farmácia para revendê-los a preços mais altos - é um caso típico em que deve prevalecer a soberania popular - o soberano é o povo, quem exerce o poder o faz em seu nome, quando a vida está em risco, não há justificativa para segurar a informação. Faça-se a luz! * André R. Sathler é economista, doutor em Filosofia e docente do Mestrado Profissional em Poder Legislativo da Câmara dos Deputados ** Valdemir Pires é economista, professor e pesquisador do departamento de Administração Pública da Unesp

terça-feira, 29 de março de 2016

Apresentação do grupo

Observatório de Participação Política e Transparência Legislativa
Trata-se de um coletivo de pesquisa e reflexão vinculado ao Programa de Mestrado em Poder Legislativo do Centro de Formação, Treinamento e Aperfeiçoamento (Cefor) da Câmara dos Deputados. O grupo tem como escopo o estudo de temas relacionados com as diferentes formas de participação política, democracia digital, transparência legislativa, dados abertos e áreas afins.

Coordenação: Antonio Teixeira de Barros e Cristiano Ferri Soares de Faria

Integrantes:

André Rehbein Sathler Guimarães - andre.sathler@camara.leg.br
Doutor em Filosofia. Diretor da Coordenação de Pós-Graduação do Centro de Formação, Treinamento e Aperfeiçoamento (Cefor) da Câmara dos Deputados. Docente e pesquisador do Mestrado Profissional em Poder Legislativo do Cefor.

Adriana Resende Monteiro - adriana.resende@camara.leg.br
Mestra em Ciência Política. Pesquisadora do Centro de Formação, Treinamento e Aperfeiçoamento (Cefor) da Câmara dos Deputados.

Antonio Teixeira de Barros - antonio.barros@camara.leg.br
Doutor em Sociologia. Docente e pesquisador do Mestrado Profissional em Poder Legislativo do Cefor.

Claudia Regina Fonseca Lemos - claudia.lemos@camara.leg.br
Doutora em Estudos Literários. Docente pesquisadora do Programa de Pós-Graduação do Cefor.

Cristiane Brum Bernardes - cristiane.bernardes@camara.leg.br
Doutora em Ciência Política. Docente e pesquisadora do Mestrado Profissional em Poder Legislativo do Cefor.

Cristiano Ferri Soares de Faria - cristiano.faria@camara.leg.br
Doutor em Ciência Política. Docente e pesquisador do Mestrado Profissional em Poder Legislativo do Cefor.

Gustavo Warzocha Fernandes Cruvinel - gustavo.cruvinel@camara.leg.br
Aluno do Mestrado Profissional em Poder Legislativo do Cefor.

Lucio Meireles Martins - lucio.martins@camara.leg.br
Aluno do Mestrado Profissional em Poder Legislativo do Cefor.

Malena Rehbein Rodrigues Sathler  - malena.rodrigues@camara.leg.br
Doutora em Ciência Política. Docente e pesquisadora do Mestrado Profissional em Poder Legislativo do Cefor.

Mauricio Suhett Spinola - mauricio.spinola@camara.leg.br
Doutor em Desenvolvimento, Sociedade e Cooperação Internacional. Pesquisador do Programa de Pós-Graduação do Cefor.

Miguel Gerônimo da Nóbrega Netto - miguel.netto@camara.leg.br
Mestre em Poder Legislativo. Docente e pesquisador do Programa de Pós-Graduação do Cefor.

Roberto Campos da Rocha Miranda - roberto.rocha@camara.leg.br
Doutor em Ciência da Informação. Docente e pesquisador do Mestrado Profissional em Poder Legislativo do Cefor.

João Luiz Pereira Marciano - joao.marciano@camara.leg.br
Doutor em Ciência da Informação. Docente e pesquisador do Mestrado Profissional em Poder Legislativo do Cefor.

Julio Roberto de Souza Pinto - julio.pinto@camara.leg.br
Doutor em Sociologia. Docente e pesquisador do Mestrado Profissional em Poder Legislativo do Cefor.

Thais Teixeira Santos - thais.santos@camara.leg.br
Aluna do Mestrado Profissional em Poder Legislativo do Cefor.

Thiago Lopes Carneiro - thiago.carneiro@camara.leg.br
Doutor em Psicologia Social e do Trabalho. Docente e pesquisador do Programa de Pós-Graduação do Cefor.